sábado, 17 de janeiro de 2015

Trapos



Temos diversas representações
desse nosso feminino contínuo:
aparentamos doçuras cruéis
e carinhosamente autoritárias;
não deixamos escapar alguns dramas;
estamos incluídas e felizes
no cerco das inscrições e das normas;
seguimos, pacientes, calendários;
refinamos nossos ódios e culpas,
reservando-nos o papel de vítimas;
mesquinhas, ocultamos sofrimentos,
agressões morais, sociais, políticas.
Mas estamos à frente, condenando
aquelas que ousam sair da rotina,
chutam seus casulos medievais,
assumem e lutam por novos amores
vendo nossos desejos condensados
na independência dessas mulheres
que se travestem de macho, de fêmea,
não têm padrões sociais de prazer,
não aceitando o que lhes é imposto.
E nós, seguimos em frente, doídas,
remendando trapos de relações,
ariando panelas, cacos famintos,
morrendo devagar, agonizando

só por modelos falidos de amor.

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