domingo, 16 de agosto de 2015

DAS CURAS

Do que é
que não se cura?
Da secura
Da boca
Do âmago
Da louca
De toda taciturna
Da hora noturna
Da solidão.

Do que é
que não se cura?
Do padecimento
Da rotina
Do usual
Não se obtém cura
Do sexual
De norte a sul
A reta é fatal
A curva é letal.

Do que é
que não se cura?
Da dor nos dedos
Dos pés
Do caminho
Das mãos
Do pergaminho
Do consagrado
De toda a dor
Que se tem sangrado.

Do que não se cura?
Da tortura
Da loucura
Da brochura
Do verde e amarelo
Do cinzel e do martelo
Pregando nas paredes
Os quadros de flores
Tortas
De passados
Que se foram
Das lembranças
Dos perversos
E desalmados
Amores
Já podres
E desolados.

        

OUSADIA

Meu coração ousado
Caminha
Com navalhas no peito
É tão surrado
Que não devolve
O que lhe é de direito.

Coração que ousa
Não tem perfeição
Só sabe a hora
De aprender a lição
Que tudo começa
Onde sempre termina

A aflição.

MEIO MUNDO



O tempo deixou
um buraco no mundo
sem fundo
dentro de mim.
O tempo esburacou
todo o fundo
e então fui percebendo
todos os meus fundos
dos meus quintais;
nesse fundo
não há espaço
para muitos;
nesse fundo
só tem meio mundo
onde compartilho
segredos, cumplicidades,
verdades...
nesse meio mundo
não há tempo
para tolices,
mentiras,
inverdades...
por isso me retiro
para os quintais
dentro de mim.

                        

LABIRINTO






Minha alma
Inquieta
Me deixou às margens
Dela;
Quase me roubou
De mim...
Alma de janelas
E portas abertas
De repente
Não a reconheci
Fugi da minha alma
E como num labirinto
Partido
Fingi não ver
A distância
E o nó
Que só desatei
Quando me vi
Completamente só.