domingo, 15 de agosto de 2010

Jogos



















Eis o jogo do amor:
o dito não dito
a faca sem amolar
usada para não cortar;
o clima sem clima,
a luz sem luz;
o jogo do amor:
difuso, confuso
eunuco, garanhão
contrário, aguçado
aguado, desesperado
desperdiçado
em meio de luas
em êxtase freqüente
busca cintilante
jogo errante,
reprovado
conservador
irrelevante em conteúdo
solvente em sabedoria
apenas busca
no jogo
reconhecer o espelho
para se ver
no esmero
de novas estruturas
sem velhos vínculos
com a própria imagem
revivida
sem atrasos nem vantagens.
Autoria: Malu Vieira

Soneto das Palavras






















Palavras errantes, marginais
instalam processos desiguais,
rasgam veias novas a sangrar,
abrem sótãos a dissimular

meros desalentos pessoais,
fingindo ser consensuais;
destróem caminhos sem parar;
velhacas, tentam intimidar.

Palavras: só cortes vicinais;
destilam preces, também amores;
resumem fichas e vão falhar;

endeusam, apedrejam mortais;
recontam muitas vezes, favores
que antecedem desejos de amar.

Autoria: Malu Vieira

Vá Pensando





















Vá pensando no seu canto;
no seu mundo, as coisas são assim;
me manda embora
como se eu fosse
um zé ninguém.

Vá pensando no seu canto;
só há um lugar no mundo
dentro de si
e tudo o que sai
necessariamente não deve retornar.

Pense bem
que o seu canto
é só melodia
para me chamar
e só meus ouvidos
estão acostumados a ouvir.

Vá pensando...
Já tomei o seu canto.
Atire suas pedras
para que eu possa
recolhê-las e construir
assim, o meu, do meu jeito
para te mostrar como deve ser.

Autoria: Malu Vieira

Torcido


















Distorcer o que está torcido
pelas palavras ditas
ocultas pela franqueza
desniveladas pela fraqueza
nem sempre faladas;
são surdas e sisudas,
as palavras.

Para tanto, necessário
é que se tomem pelo pé
assim, de cabeça para baixo
em tudo que se elabora
vomitado em misturas
pouco utilizadas
para narinas sensíveis.

Roga-se o favor
de que não sejam impostas
nem impostoras, essas palavras,
que de tão ocultas pelas mixórdias
viram pragas, paradigmas imprestáveis,
tudo obsoleto, relapso
contido num camafeu perdido.

Pede-se que essas palavras
sejam parte da serenidade
não mais torcida, feito caminho sem volta
mas sim, distorcidas as atrocidades
voltem para um reino
onde não mais vagueiem torções
e que não se jure obediência
e nem se julgue súdito ingrato
aquele que desobedecer
os arbítrios,
aliás, que nem haja súditos
nem reinos.

Autoria: Malu Vieira

Decassílabas



















Seu rosto me acompanha, mero toque;
o paladar do seu beijo traduz
uma sede voraz, que é permanente;
minha pele arrepia no calor
transmitido através do seu abraço.

Seus olhos me desenham, chamariz
brilhando no escuro desses desejos
que atravessam fronteiras arrumadas,
padronizando tantos sentimentos
só para nada ficar no lugar.

Seus pelos arrepiados, molhados
me guardam nas entrelinhas dos poros
que tentam descrever o novo amor
nas formas plurais que emergem vividas
para além do gozo: o que nos completa.
Autoria: Malu Vieira

Danação da Norma





















Fotos ficam bem encaixadas
em determinadas molduras....
As regras sociais
se tornam escoras da hipocrisia
não se adequando
aos espaços pré-determinados.
Aparentemente, todos se conformam
com o que está estabelecido
e a aparência social
é de tranqüilidade.
Mas pode haver cupins
por trás das escoras
que sustentam as molduras...
Então, as normas se danam,
mas tenta-se quase que em vão
manter os modelos antigos
que tanto restringem os passos.
Para romper com isso
E saber que a vida é movimento,
basta entender que a única
obrigação a cumprir
é exatamente a de ser feliz
consigo próprio
e se preciso for,
se desencaixar e dizer
que se danem as normas.
Autoria: Malu Vieira

Acalantos





















Quero dizer
do amor que te sinto,
do acolhimento que meus braços
desejam,
do envolvimento que me toma,
do sentimento que me absorve,
da luz que me habita
desde o momento
em que você bateu na minha porta
e deixei que entrasse
na minha vida.

Quero afirmar
que meus abraços
desejam por demais
te abraçar e ao mesmo tempo,
sentir o teu cheiro,
sorver a tua essência,
lamber o teu beijo
e te acalentar
nas noites enluaradas
deitada na rede
quando você se permite
soltar o seu corpo
e abraçar também a minha alma.

Quero confirmar
que estou envolvida contigo
e que te envolvo
pelos labirintos do amor
tão bonitos
e tão suaves
e tão ternos;
estamos envolvidas
na delicadeza dos beijos,
do amor e da ternura
para construir uma vida
de carinho e compreensão.


Autoria: Malu Vieira

Fortalezas





















Adentrar estranhas fortalezas
construídas a partir
do destino que se estabelece
entre o dar e o receber
e reconhecer a beleza,
a tranqüilidade que é ter o prazer
com o olhar, com o toque,
com os cheiros…

Essas estranhas fortalezas
com seus portões
aparentemente intransponíveis
se abrem a cada vez
que se revela ao nosso amor
as laterais das nossas almas.

Autoria: Malu Vieira